SIGNIFICADO DE VYASAPUJA



SIGNIFICADO DE VYASAPUJA DE CHANDRA MUKHA SWAMI (12 / 2010)

                          A palavra guru geralmente é traduzida de uma forma genérica, como “mestre”. Mas que tipo de mestre seria este? Qualquer mestre? Sim, na Índia, pelo menos hoje em dia, são chamados de “guru” qualquer professor acadêmico, educador ou instrutores das mais diversas áreas e modalidades, como filosofia, música, artes marciais, artes plásticas, yoga, dança, tecnologia, construção civil, história, sociologia, etc., e até mesmo aqueles professores que ensinam as escrituras védicas e a filosofia contida nelas. Enfim, lá, todo aquele que ensine algo, mesmo alguma técnica ou habilidade, é chamado de “guru”, e, portanto, já é considerado um brahmana, pois uma das qualificações e tarefas principais de um brahmana é conhecer e praticar a arte de ensinar – principalmente as escrituras (“...pathana-paathana...”, i.e.:”...estudar as escrituras e ensiná-las..”). No entanto, de acordo com estas mesmas escrituras védicas, tais ensinamentos acadêmicos mundanos transmitidos por estes ditos “gurus” não são considerados Verdadeiro Conhecimento. (Bg 13.8-12). Eles não passam de meras técnicas, talentos e habilidades relacionados ao corpo e a mente materiais, geralmente ligados à sobrevivência do ser humano nesse mundo temporário, e, em última análise, podem ser reduzidos às necessidades básicas do homem (e dos animais) de comer, dormir, acasalar-se e defender-se. Por outro lado, o simples fato de estudar e conhecer teoricamente as diferentes abordagens e conclusões filosóficas (“siddhantas”) presentes nas escrituras e ensiná-las, e mesmo o fato de entoar todos os mantras e praticar todos os tantras contidos nelas e ensiná-los, não qualifica necessariamente alguém a se tornar um guru genuíno. Todo este conhecimento teórico é chamado de “jnana”, e se aplicado para a realização espiritual, esta prática é chamada de jnana-yoga, ou sankhya yoga, ou seja, a ciência que distingue analíticamente o espírito da matéria. Contudo, a literatura védica também afirma que meramente cultivar tal conhecimento (jnana) também não é suficiente para se alcançar o status de um verdadeiro guru. Como diz no Padma Purana::

                                                             sat-karma-nipuno vipro /                      
 mantra-tantrav-visharadah /
                                                            avaishnavo gurur na syad /
                                              vaishnavah sva-paco guruh

                              “Um brahmana erudito, mesmo se versado em todos os assuntos do conhecimento védico(mantras e tantras), não está apto a tornar-se um mestre espiritual (um Guru) se não for um vaishnava, ou consciente de Krishna. Mas mesmo a pessoa nascida em uma família de casta inferior pode se tornar um mestre espiritual se for um vaishnava, ou consciente de Krishna”.   

Neste verso, o termo “sat-karma” refere-se às seis atividades básicas que caracterizam um brahmana, que são: pathana paathana / yayana yaayana / dhana pratigraha: “Estudar as escrituras e ensiná-las, executar sacrifícios e ensinar outros a executá-los, dar caridade e receber caridade”.  
Ora, o próprio termo sânscrito “brahmana” por sua vez, significa ao pé da letra: “aquele que conhece o ‘brahman’, i.e., o Espírito”. Como diz o Senhor Krishna na Bhagavad Gita, o Verdadeiro Conhecimento é aquele através do qual aprendemos e realizamos que não somos estes corpos e mentes materiais temporários e sim almas espirituais e eternos servos amorosos do Supremo Senhor Krishna, a Suprema Personalidade de Deus. Ou seja, com esse conhecimento sublime descobrimos quem realmente somos nós, quem é Deus, de onde viemos e para onde podemos ir após a morte. Com ele entendemos que a meta última da vida humana é nos libertarmos do cativeiro desta existência material miserável e voltarmos ao reino espiritual, de volta ao Supremo; nosso verdadeiro lar. E tal conhecimento e a prática dele nos capacita a alcançarmos tal objetivo; e esta é a função original de um mestre espiritual genuíno. De fato, como está afirmado no Srimad Bhagavatam (5.5.18): gurur na sa syat sva-jano na sa syat / pita na sa syaj janani na sa syat/ daivam na tat syan na patis ca sa syan/ na mocayed yah samupeta-mrtyum
“Um guru não é um verdadeiro Guru, assim como uma pessoa não pode ser um pai, não pode ser uma mãe, não pode ser um semideus e nem um líder da sociedade, se não for capaz de proteger seus discípulos, dependentes e súditos da ignorância de maya, que os mantém presos a essa existência material de nascimentos e mortes, se não puder dar a eles a oportunidade de se liberarem e alcançarem vida eterna.”

 Sem embargo, principalmente na escola Vaishnava, e mesmo na cultura védica em geral, via de regra a palavra “guru” não se refere à simplesmente qualquer mestre, mas indica diretamente um “mestre espiritual”, ou seja, aquele que realizou pessoalmente e compreendeu este verdadeiro Conhecimento transcendental, e o vivencia na pratica, e na íntegra. Além disso, ele tem a capacidade de transmiti-lo, iluminando assim seus discípulos e à humanidade em geral. Como o próprio Sri Krshna afirma na Bhagavad-gita (4.34):
tad viddhi pranipatena
pariprashnena sevaya
upadekshyanti te jnanam
jnaninas tattva darshinah

            “Tente aprender a Verdade aproximando-se de um mestre espiritual. Faça-lhe perguntas com submissão e preste-lhe serviço. As almas auto-realizadas podem lhe transmitir conhecimento porque elas são videntes da Verdade”. Sendo assim, a definição de um Guru Verdadeiro não é simplesmente aquele que possui “jnana”, i.e., apenas conhecimento meramente teórico. Além de jnana, o mestre espiritual possui vijnana – “Sabedoria”, pois sabe como aplicar tal conhecimento védico na prática, tanto em sua vida quanto na vida de seus discípulos e seguidores. Como está afirmado nas escrituras védicas:
tad vijnanartham sa gurun evabhigachet
samit panir shrotyam brahmanistham

            “Deve-se aproximar daquele guru que possui sabedoria, pois a realizou diretamente por ouvir das fontes fidedignas, e está firmemente situado no brahman(o Espírito Supremo)”
Sendo assim, o mestre espiritual é um “budhi-yogui”, i.e., ele pratica a “yoga da inteligência”.  A palavra “Budhi” significa “inteligência. Mas neste contexto não se refere a qualquer inteligência, mas Inteligência espiritual. Tal inteligência é definida no Bhagavad-gita (2.41 e 2.44) como vyavasatmika buddhir, ou“inteligência resoluta”:

Vyavasayatmika buddhir ekeha kuru-nandana
Bahu-sakha hy anantas ca buddhayo ‘vyavasayinam

“Aqueles que estão neste caminho são resolutos, e têm um só objetivo. Ó amado filho dos Kurus, a inteligência daqueles que são irresolutos tem muitas ramificações.”

              Este termo “guru” também aceita outras traduções e pode abranger uma ampla gama de significados. Por exemplo, “guru” também quer dizer “pesado”. Segundo Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada, este termo “pesado” sugere que, embora o guru seja tão leve como uma flor - devido ao amor puro por Deus que dele irradia  – ainda assim, diante da energia ilusória de Krisna – Maya – ele também se torna “pesado”, quando sente a necessidade de - energicamente – dissipar a escuridão da ignorância dos corações de seus discípulos, transformando assim suas vidas.
            Sendo assim, o guru genuíno não é simplesmente aquele que é erudito, habilidoso, talentoso, carismático, belo, simpático, educado, rico, de família aristocrática ou de alta linhagem brahmínica, nascido na Índia, etc; nem tampouco alguém é considerado um verdadeiro guru por ser versado em diferentes técnicas e artes, como música, oratória, retórica, yoga, etc, ou versado nos mais diversos ramos de conhecimento físico, ou até mesmo metafísico. Tampouco ser guru significa ser uma pessoa com poderes místicos sobrenaturais, como poderes de cura, de encantar as pessoas, de fazer mágicas e prestidigitações. O guru é aquele que conhece Krishna e a ciência de como se conhecer Krishna.  Como se diz no Caitanya-caritamrta, Madhya 8.128:

kiba vipra, kiba nyasi, shudra kene naya /
 yei krsna-tattva-vetta, sei’guru’ haya

“Não importa se alguém é um vipra [estudioso erudito na sabedoria védica] ou nasceu numa família inferior, ou está na ordem renunciada – se ele for mestre na ciência de Krsna, deve ser aceito como um mestre espiritual perfeito e genuíno.”

            Além disso, no Sri Upadeshamrita, “O Néctar da Instrução”, Srila Rupa Gosvami, logo no primeiro verso, define ainda outras qualificações de um guru autênico:

Vaco vegam manasah krodha-vegam jihva vegam udaropastha vegam
Etan vegan yo visaheta dhirah sarvam apimam prithivim sa sisyat

“Aquele capaz de controlar os impulsos da fala, mente, ira, barriga, língua e genitais, é conhecido como goswami, e está qualificado para aceitar discípulos em todo o mundo.”

                     E qual é o critério através do qual podemos reconhecer e encontrar tal guru autêntico?  Como ele se tornou tal Verdadeiro Guru? Além das qualificações descritas acima e inúmeras outras não citadas aqui, em primeiro lugar temos que entender que ninguém pode ser um guru fidedigno se antes não tiver sido um discípulo perfeito e exemplar de um outro mestre espiritual genuíno, pelo qual foi iniciado. Ninguém pode, jamais, se converter a si mesmo num guru autêntico, por conta própria. E o mestre espiritual dele, por sua vez, também seguiu o mesmo caminho, sendo um discípulo perfeito e tendo aceitado a outro mestre com as mesmas qualificações, e assim por diante, formando-se então uma cadeia de sucessão discipular, denominada de parampara, que descende de geração a geração através dos milênios, tendo se originada do próprio Senhor Sri Krishna.
Como o próprio Senhor afirma na Bhagavad-gita (4.2):

evam parampara-praptam imam rajarshayo viduh
sa kaleneha mahata yogo nashtah paramtapa

“Esta ciência suprema foi assim recebida através da corrente de sucessão discipular, e os reis santos compreenderam-na desta maneira. Porém, com o passar do tempo, a sucessão foi interrompida, e, portanto, a ciência como ela é parece ter-se perdido”.

                       E quais são as qualificações necessárias para a pessoa se tornar um discípulo perfeito e assim ser apto a se tornar um receptáculo deste conhecimento do Absoluto transmitido pelo guru e realizá-lo na prática, ingressando assim nesta corrente discipular? No verso seguinte Krishna diz:
sa evayam maya te ‘dya  yogah proktah puratanah
bhakto ‘si me sakha ceti rahasyam hy etad uttamam
“Esta antiqüíssima ciência da relação com o Supremo é falada hoje a você por Mim porque você é Meu devoto bem como Meu amigo e pode, portanto, entender o mistério transcendental que há nesta ciência”.  (Bg 4.3)

Quando os sábios de Naimisharanya escolheram a Suta Goswami para ser o orador do Srimad Bhagavatam, o critério que adotaram foi as seguintes considerações e qualificações verificadas por eles em Suta: “Respeitável Suta Goswami és completamente livre de todos os vícios. És bem versado em todas as escrituras famosas pela vida religiosa, como os Puranas... pois as estudaste minuciosamente sob orientação adequada, e também as explicaste.” - “Por seres o mais velho dos Vedandistas eruditos, Ó Suta Goswami, estás bem familiarizado com o conhecimento dado por Vyasadeva, que é a encarnação de Deus, e conheces também a outros sábios, que são totalmente versados em todas as espécies de conhecimento...” “E porque você foi submisso, teus mestres espirituais te concederam todos os favores que se outorga a um discípulo manso e gentil. Por isso, podes nos dizer tudo que você aprendeu cientificamente com eles”. (Srimad Bhagavatam 1.1.6,7,8). Nestes versos eles mencionaram especificamente a Srila Vyasadeva, o compilador original de toda a literatura védica, apontando-o como uma das encarnações de Deus. Srila Vyasadeva, por sua vez, seguindo o exemplo de outras encarnações divinas, também aceitou um mestre espiritual genuíno, Narada Muni (“o sábio dentre os semideuses e o semideus dentre os sábios). E Narada Muni é diretamente discípulo do Senhor Brahma, um dos três semideuses mais elevados do Universo material, que nasceu diretamente do Senhor Vishnu, o Senhor Supremo, e que foi o primeiro ser vivo criado, pai de todas entidades vivas e engenheiro deste Universo material. O Senhor Brahma recebeu dentro de seu coração, todo este conhecimento védico sobre a Verdade Absoluta, diretamente do Senhor Sri Krsna, a Suprema Personalidade de Deus.
O Senhor Sri Krishna Caitanya Mahaprabhu, o avatar dourado, a encarnação mais misericordiosa do Senhor Krishna para esta degradada era de Kali, apareceu há 500 anos, em Bengala, para distribuir livremente prema-bhakti (Amor Puro por Krishna), inaugurando o Movimento de Sankirtana, o canto congregacional dos Santos Nomes de Deus na forma do Maha mantra: HARE KRISHNA, HARE KRISHNA, KRISHNA KRISHNA, HARE HARE, HARE RAMA, HARE RAMA, RAMA RAMA, HARE HARE. Para dar o exemplo, assim como Vyasadeva, Ele também aceitou iniciação espiritual de Isvara Puri, que também pertencia a esta mesma corrente discipular advinda do Senhor Brahma.
Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada, o Fundador Acharya da ISKCON, sendo também um discípulo submisso e exemplar, seguiu as instruções de seu próprio mestre espiritual, Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati, e executou as ordens dele, cumprindo assim a missão do Senhor Chaitanya, ao introduzir este grande Movimento Hare Krishna no mundo inteiro nessa moderna era de Kali. Ele é nosso amado mestre espiritual e o eterno siksha guru (guru instrutor) da ISKCON, a instituição por ele criada; e é o Jagad guru – mestre espiritual do Universo. Como seguidor do Senhor Caitanya, Srila Prabhupada também é um gaudiya-vaishnava, assim como nós, que somos seus seguidores, integrantes e participantes deste grande Movimento, também pertencemos a esta mesma sampradaya vaishnava denominada Brahma-Madhva-Gaudiya.
Num significado da Bhagavad-gita (cap18.75), Srila Prabhupada explica: “Vyasa era o mestre espiritual de Sanjaya, e Sanjaya admite que foi pela misericórdia de Vyasa que ele pôde compreender a Suprema Personalidade de Deus. Isto significa que não é diretamente que se deve entender Krishna, mas por intermédio do mestre espiritual. O mestre espiritual é o meio transparente, embora na verdade a experiência continue sendo direta. Este é o mistério da sucessão discipular. Quando o mestre espiritual é genuíno, o discípulo, tal qual Arjuna, pode ouvir o Bhagavad-gita diretamente. ..””...Quem não se dirige a sucessão discipular não pode ouvir Krishna; portanto, seu conhecimento sempre é imperfeito...””...Na verdade, não há diferença entre ouvir Krishna diretamente e ouvir diretamente de um mestre espiritual autêntico como Vyasa falar a respeito de Krishna. O mestre espiritual é também um representante de Vyasadeva. Portanto, segundo o sistema védico, no aniversário do mestre espiritual os discípulos organizam a cerimônia chamada Vyasa-puja”. Sendo assim, seguimos hoje esta mesma tradição milenar mencionada aqui por Srila Prabhlupada. E seguindo os passos dos sábios de Naimisharanya, consideramos Chandra Mukha Swami um guru fidedigno, pois ele preenche todos os predicados indicados acima. Além disso, por sempre ter sido um pregador incansável e constante, ele está cumprindo a mesma tarefa de Srila Prabhupada, dando continuidade de forma exemplar a missão do Senhor Caitanya, em sucessão discipular, tendo sido devidamente iniciado e instruído dentro desta mesma sampradaya por Srila Hrdayananda Goswami Maharaj - discípulo especial e seguidor direto de Srila Prabhupada, e também grande pregador da Consciência de Krishna e, portanto, outro guru autêntico da ISKCON, na linha do parampara, advinda diretamente do Senhor Sri Krishna. HARIBOL!!!!     
      
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